quarta-feira, 4 de junho de 2014

DISCO NA ÍNTEGRA - 12 FAIXAS

Gravado em São Paulo, durante 2013 e início de 2014.
Mixado e Masterizado por Levi de Souza (Estúdio Popular Toca do Saci, Curitiba/PR)

Link para ouvir no SPOTIFY:

https://open.spotify.com/album/7LdF0fOLJsClTIgTrfEBvy

01 - O futebol e a luta de passes (Fábio Carvalho)

E recomeça a grande partida, o jogo da vida
Que há tempos vem sendo jogado
De um lado uma equipe unida, forte, temida
Do outro, um time pequeno, coitado

E o time grande forte, unido
Já é sabido, na grama deita e rola
Das regras do jogo é autor, do juiz é mentor
É dono do campo e da bola

Pois recebe por baixo, no meio domina
Passa por cima, não perde uma chance
Pega o rebote no bate-rebate
Leva a bolada e investe no lance
Controla a jogada, dribla, enfeita
Pela direita a área invade
Manda no jogo, comete infração
O juiz fala “não!” e ainda marca penalidade

E o time pequeno, fraco, coitado
É goleado queira ou não queira
Sua torcida é pequena e quem só sente pena
Não levanta bandeira

Pois quando avança no movimento
E tenta o tento botando pressão
O time grande se arma e sua defesa
Não dá moleza e derruba no chão
E impede passagem, impõe correria
Entra de sola no pé, no joelho
E a arbitragem que então deveria
Punir quem assola
Pra quem apanha mostra o vermelho


Voz e violões: Fábio Carvalho
Trombone: Alexandre Arruda
Percussão: Hélio Souza

02 - Nem pra peixe (Fábio Carvalho)

Diz o ditado popular
Nem pra peixe a maré está

Quanto mais houver cobiça
Mais tubarão vai cobiçar
Tanto faz dar na cabeça
Como na cabeça dar

Para um bom entendedor
Meia palavra bastaria
Se o peixe soubesse a dor
A isca não beliscaria


Voz e violões: Fábio Carvalho
Clarineta: Flávio Rubens
Percussão: Edson Pereira
Coro: Aira Bonfim, Izabel Cristina e Mariana Desidério

03 - Lá na Bahia (Fábio Carvalho)

Ai, ai, lá na Bahia
Você vai marejar
Vai ver que a maresia
Traz o Dorival do mar

Hoje quase não tem romantismo
Tem modismo ao luar
Hoje quase não tem samba bom
Tem o som de carro no ar
Hoje quase já não dá
Para amar com tudo assim
Mas a Bahia ainda tá viva lá
Pra você e para mim

Hoje quase não tem jangadeiro
Tem pesqueiro de grande porte
Hoje quase não se vê mais vila
Perfila o resort
Hoje quase já não dá
Para amar com tudo assim
Mas a Bahia ainda tá viva lá
Pra você e para mim


Voz, violão, viola e cavaquinho: Fábio Carvalho
Percussão: Hélio Souza
Coro: Aira Bonfim e Izabel Cristina

04 - Olhos da cara (Fábio Carvalho)

Quem é você que passa ao meu lado
Sem ter cuidado com meu coração
Meu bem, eu sofro de taquicardia
Não queira um dia
Dizer que eu te olho em vão

O meu batimento dispara
Com essa disparidade que há:
Ser livre custa os olhos da cara
Mas não custa nada a liberdade do olhar


Voz: Cida Lobo (Participação especial)
Violões: Fábio Carvalho
Clarineta: Flávio Rubens
Bateria: Deniel Moraes

05 - Carta a Julieta (Fábio Carvalho)

Querida Julieta,
Vou fazer dos meus olhos uma luneta
Vou mirar lá no alto um planeta
Que é pra ver se reflete a silhueta
Do teu lindo sorriso, óh, Julieta

Se teu sorriso for mais que veneta
Vou abrir a passagem da ampulheta
Vou guardar pra você numa caixeta
Um amor que dispensa etiqueta e muleta
Longe de ser falseta

Só não pense que meu verso é mutreta, me prometa
Eu não dou esmola, muito menos gorjeta
O fato é que seu nome, rara Julieta
Já não me sai mais da cabeça!

Me faz até tirar o ‘t’, óh, meu Deus, do final ‘eta’
Me faz até quebrar a rima, menina, perfeita
Me faz até subir a estima, me anima, é porreta
Me deixa até com a perna fina, franzina, cambeta
Me faz até sair de cima das minas foguetas
Me deixa até com espertina, imagina, espoleta
Me faz até ir lá na China, bambina, à carreta
Me deixa até sem nicotina e Salinas, careta
Me faz até achar que é sina, combina, Julieta


Voz: Fábio Carvalho
Clarineta: Flávio Rubens
Percussão: Hélio Souza

06 - O carteiro sempre me diz (Fábio Carvalho)

Depois que postei aquela carta, veja bem
Escuto os passos do carteiro
Até quando ele não vem
E quando vem eu corro pra saber
Se a resposta veio também
Mas o carteiro sempre me diz:

“Eu sinto muito, a carta que deseja não tem
Só tem a conta de luz, do IPTU
E tem a conta do aluguel, meu Deus do céu!
E tem boleto, tem panfleto de promoção
Tem carnê de prestação e a conta do telefone
Mas, infelizmente, eu sinto muito
Aqui não tem mais nada com seu nome”


Voz e violão: Fábio Carvalho
Clarineta: Flávio Rubens
Percussão: Edson Pereira

07 - Piada do ismárti fone (contada pela Vó Maria)

08 - Como diz Denilson (Fábio Carvalho)

Pois é, tô vendo que tudo mudou
Olha que na minha mocidade
Cara a cara de verdade
Tinha muito mais valor

Outro dia puxei papo com um rapazote
Que me deu o mote desse meu baião
Perguntei o que ele via no seu telefone
E o malcriado no Danone respondeu de supetão:
“Sai, tio, to vendo a minha home!”

Meu Deus, que diabo é isso?
Ô desgrama que enrama
E a moçada não desgruda
Mas viu, como diz Denilson
É só botar pra capinar
Que capinar é terapia
E a terapia ajuda


Voz, violão e viola caipira: Fábio Carvalho
Percussão: William Santos
Coro: Aira Bonfim e Izabel Cristina

09 - Sebastião na direção (Fábio Carvalho)

Vida inteira motorista; sua via, toda pista
Circulava tranquilamente, sempre em frente, pela mão
O bom marido e falecido Sebastião

Esboçava timidez, vejam vocês, filhos teve dezesseis
Quatro mulheres, uma a uma e nenhuma confusão
(dor de cabeça, nem batendo a testa no chão)

Quando foi chofer de praça me contou achando graça
Um episódio digno de pódio e pileque
(e por que não samba de breque?)

O cenário era o Centro, perto do metrô São Bento
Nem viu se era ele ou ela da janela do seu táxi:
Dois travestis o assaltaram! (uma exceção da práxis)

Ele passou o que ele tinha e pra complicar, advinha?
A gasolina, ainda por cima estava no fim
(o que era mais ou menos num piscar ficou ruim)

Ele tirou do maço um cigarro e ficou fumando no carro
Pensando alto no assalto quando de repente:
Por outro ladrão ele foi abordado novamente!

“Meu Deus do céu!”, ele disse pro assaltante:
“Fui roubado nesse instante, acabaram de levar, posso provar
O dinheiro que juntei o dia inteiro
Levaram até os bombons que comprei pros meus herdeiros”

“Jesus de Nazaré!”, o larápio exclamou
Entrou no carro e ordenou de meia-calça no rosto
Apontando o posto da esquina:
“Vamos resolver isso já depois de botar a gasolina”

O ladrão, então, deu cinco cruzados, não...sei lá, cruzeiros
E foram atrás do João, o famoso João Bombeiro
Que por ser hidráulico era simbólico seu codinome
(era famoso por aplicar nas meninas o silicone)

Pois João sabia, sabia quem podia
Saber quem é que havia quebrado a regra que integra
A lei do meretrício: roubar taxista é proibido, é malefício!

Então, pras travestis lá do centro eles logo perguntaram
E elas logo de cara suspeitaram das tais à toa
Na terra da garoa de passagem
Recém-chegadas do Rio de viagem

E aí, as conhecidas do João, revoltadas, como não?
Foram indo e já subindo na pensão das forasteiras
(imagina vinte salto-altos numa escada de madeira)

Bateram na porta que quebrou e o barraco armado desarmou
Bate-boca, bofetão, mini-saia, vozeirão
E a ordem em alto e bom som:
“Devolvam agora o dinheiro e a caixinha de bombom!”

Concluído o resgate do dinheiro e do chocolate
Mais uma vez Sebastião sorriu sem Doril, sem Aspirina
Agradeceu ao João, apertou a mão de cada menina
(e devolveu ao ladrão o dinheiro emprestado pra gasolina)


Voz e violões: Fábio Carvalho
Clarineta: Flávio Rubens
Trombone: Alexandre Arruda
Percussão: Hélio Souza

10 - O samba consola (Fábio Carvalho)

Se a vida desanda, é capenga
Não vinga, delonga, não dá
É só propaganda, é só lenga-lenga
E a gente no papo que nem pato cai

Se a gente cochila, se cala
Se anula, modela o sofá
Desengaiola, pro samba decola
Canta rebola, o samba consola
O samba distrai

Canta, vai! Quem entrou já não sai!

Se o pobre do homem
Tem dor no abdome com a fome que dá
O tutu tá pouco, o gogó tá rouco
Ele desanima, lastima, retrai

Se a gente por ora
Transpira e libera amargura no ar
Desanuvia, com o samba se alia
Canta assovia, o samba alivia
O samba distrai


Voz, violões e cavaquinho: Fábio Carvalho
Percussão: Hélio Souza
Coro no bar: Roda Partido do Samba - ECLA, Bixiga, SP

11 - Fazer o quê (Fábio Carvalho)


O quê que eu posso fazer, amor
Se não suporto a falsidade?
Em nome da liberdade
Quem pode ganha, quem não pode só pretende
Quem pode compra, quem não pode se vende

O quê que eu posso fazer, meu bem
Se não suporto o cinismo escancarado?
Em nome de Deus e do mercado
Quem pode tem, quem não pode fica sem
Quem pode bem, quem não pode, amém

O quê que eu posso fazer, mulher
Se não suporto toda essa hipocrisia?
Em nome da tal democracia
Quem pode impede, quem não pode nem pede
Quem pode pode, quem não pode s...não pode!


Voz e violão: Fábio Carvalho
Percussão: Edson Pereira

12 - Escuta amor (Fábio Carvalho)

Escuta, amor, não viu?
Inventaram o fonógrafo, não viu?
Que grava e reproduz o som
Qualquer som, qualquer mensagem
Escuta, amor, aposto
Logo modificam isso, aposto
E se aumentar o som é bom
Pra lançar a nossa voz
Escuta, amor, não lembra?
Já disseram que no ar, não lembra?
Tem ondas e eu nem sei explicar
Se é o vento ou é o quê
Escuta, amor, duvido
Vai que um dia a humanidade, duvido
Inventa um transmissor e ao longe
Nossa canção alguém escuta


Voz e violão: Fábio Carvalho

Livro (2008)